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Investigação do golfinho-corcunda-do-atlântico em Angola

Investigação do golfinho-corcunda-do-atlântico em Angola

A ocorrência de golfinhos-corcunda-do-atlântico em Angola só foi confirmada em 2004, quando um naturalista amador divulgou fotografias da espécie, tiradas enquanto andava de caiaque ao longo da costa da província do Namibe, na região mais ao sul de Angola. Esses registos (latitude 15º33’S) expandiram consideravelmente para sul, a partir da República do Congo (latitude 4º30’S), a área conhecida do golfinho-corcunda-do-atlântico, levantando assim questões sobre o potencial isolamento do que poderia compreender uma população remanescente no fim da área de distribuição da espécie.

Durante 2008, a Ketos Ecology promoveu um estudo específico para avaliar o estatuto do golfinho-corcunda-do-atlântico na zona do Flamingo, província do Namibe, e para fornecer dados de referência sobre a sua distribuição e o tamanho da população que, eventualmente, pudessem servir de base para a gestão futura da conservação. Durante janeiro (verão) e julho (inverno), foram realizados estudos em barcos pequenos e ao longo da costa, para determinar se a distribuição e a abundância de golfinhos estavam relacionadas com a sazonalidade.

Os avistamentos de golfinhos-corcunda-do-atlântico foram regulares na área do estudo durante tanto janeiro, quanto julho. No entanto, a foto-identificação revelou que só nove indivíduos foram (repetidamente) encontrados na área do estudo durante janeiro. Esses mesmos animais voltaram a ser registados em julho, com a única adição de uma cria pequena, nascida entre as duas visitas de campo. O projeto englobou a primeira tentativa destinada a identificar a população de golfinhos-corcunda-do-atlântico com base em fotografias, demonstrando que o método podia ser aplicado à espécie, e gerando a primeira estimativa de abundância em qualquer ponto da área de distribuição da espécie. Seguimentos centrados em indivíduos e em grupos de golfinhos durante o projeto também forneceram os primeiros dados sistemáticos sobre o comportamento do golfinho-corcunda-do-atlântico, as suas afiliações sociais e a sua utilização do habitat. A área de estudo consistiu em costas abertas expostas, bordejadas por praias de areia ou falésias, e os golfinhos-corcunda-do-atlântico mantiveram-se essencialmente dentro dos 800 m da linha da costa, e, frequentemente, imediatamente a seguir à rebentação das ondas. As deslocações e a procura de alimentos constituíram os seus comportamentos fundamentais; enquanto caçavam a sua presa, os animais que procuravam alimentos cobriram áreas relativamente pequenas durante várias horas, particularmente enquanto a maré subia. Os dados fotográficos indicam que os 10 golfinhos consistiam num grupo nuclear de 7 animais (incluindo um animal jovem e duas crias), num adulto que se associou ao grupo nuclear durante o inverno, mas que se mostrou mais solitário durante o verão, e em dois outros adultos, essencialmente solitários. Durante o estudo promovido em janeiro, foi várias vezes utilizado um hidrofone para recolher dados sobre as vocalizações do golfinho-corcunda. As gravações acústicas revelaram que o golfinho-corcunda-do-atlântico produz assobios de frequência relativamente baixa, quando comparados com os de muitas outras espécies de golfinhos marinhos, talvez em resultado de uma adaptação com vista a uma comunicação eficaz no ruidoso ambiente costeiro em que habitam.

O projeto de Angola englobou um estudo de campo sistemático e pioneiro da espécie, e o seu êxito constituiu a base para diversos estudos de referência semelhantes, realizados posteriormente. No entanto, a descoberta de apenas 10 animais na população do estudo na zona do Flamingo levantou preocupações consideráveis relativamente à conservação, em especial atendendo à observação diária da utilização, pelos pescadores locais, de redes de emalhar artesanais na área do estudo. Relatórios ocasionais indicam que ainda há golfinhos-corcunda-do-atlântico na zona do Flamingo (em 2020), mas não foram realizados mais estudos da espécie na região. Há já muito tempo que devia ter sido feita outra avaliação desta população pequena e, aparentemente, isolada, avaliação essa à qual será dada ênfase nos pedidos de financiamento futuros.

Caroline Weir
Ketos Ecology and CCAHD

O trabalho desenvolvido em Angola em 2008 foi financiado pela Ketos Ecology, e por pequenas doações da Whale and Dolphin Conservation (Conservação de Baleias e Golfinhos) e do fundo Small Grants Fund (Fundo para Pequenas Doações) da University of Aberdeen (RU).

More information:

  1. Weir, C.R. (2019). Os Cetáceos (baleias e golfinhos) de Angola. Pp 445–549 in: Biodiversity of Angola. Science and Conservation: A modern synthesis, ed. by Huntley, B.J., Russo. V., Lages, F. and Ferrand, N. Springer Open. doi: 10.1007/978-3-030-03083-4
  2. Weir, C.R. (2011). Ecology and conservation of cetaceans in the waters between Angola and the Gulf of Guinea, with focus on the Atlantic humpback dolphin (Sousa teuszii). PhD Thesis, University of Aberdeen, UK.
  3. Weir, C.R., Van Waerebeek, K., Jefferson, T.A. and Collins, T. (2011). West Africa’s Atlantic humpback dolphin (Sousa teuszii): endemic, enigmatic and soon Endangered? African Zoology, 46: 1–17.
  4. Weir, C.R. (2010). First description of Atlantic humpback dolphin (Sousa teuszii) whistles, recorded off Angola. Bioacoustics, 19: 211–224.
  5. Weir, C.R. (2010). Cetaceans observed in the coastal waters of Namibe Province, Angola, during summer and winter 2008. Marine Biodiversity Records, 3: e27.
  6. Weir, C.R. (2009). Distribution, behaviour and photo-identification of Atlantic humpback dolphins Sousa teuszii off Flamingos, Angola. African Journal of Marine Science, 31: 319–331.

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